Feliz Ferre-se Novo

If you’re gonna crash, crash decisively.

Paul Newman disse isso. Uma de suas filhas o citou, ao falar dele, numa série documental chamada The Last Movie Stars, que estou revendo esses dias. De tudo o que ele já tinha dito, essa, a frase da qual ela mais gosta. 

If you’re gonna crash, crash decisively. 

Crash é uma daquelas palavras sensacionais da língua de Shakespeare. Crash. Soa just right. Já me vem à mente aquela imagem fabulosa de um avião se espatifando, feito um meteoro proposital, no meio de um deserto de tédio silencioso, inconsciente, monocromático. O avião vem, se joga e, ao fazer isso, produz tudo o que não há ali… A cor, o som, a fúria.

Crash decisively. Crash, a palavra perfeita. Mas, vá lá… Traduzir é preciso. Em português, na forma “correta”, eu teria que dizer “bater” ou “colidir”… ou… melhor ainda: “se espatifar”. Ainda assim, esse correto não tem o tom vibrante de crash. Talvez a melhor tradução do sentimento, que é o que me importa, em linguagem ou em qualquer outra coisa, really, seria… Ferre-se!

Se você vai se ferrar, ferre-se decididamente. Ferre-se. Ferremo-nos. Agora, hoje, amanhã, em todo o ano de 2024, sempre. 

É esse, o meu desejo, então? To crash and burn? Obviamente, não. Eu sou, afinal, apenas humana. Meu desejo é… o voo perfeito. O voo no qual o vento passe por mim como se fôssemos um só. No qual eu sempre saiba onde ir, sem ter que pensar. Faça  TUDO sem ter pensar – e, por isso mesmo, sem falhar jamais. E cada movimento seja perfeito, harmônico, lindamente orquestrado. O voar sem lembrar que voa. Puro, ilimitado, infinito… êxtase. Esse, o meu desejo. 

Mas…

Se houver pane, turbulência, desorientação.

Se a altitude não for sustentável.

Se o ar estiver pesado e o horizonte, nublado.

Se eu não puder mais voar sem saber.

Se eu não puder mais gostar de estar voando.

Se, dor e morte supremas de todas as dores e mortes, eu já não puder me lembrar de nenhuma das razões que me fizeram alçar aquele voo, em primeiro lugar…

Então, nesse momento… Crash.

Ferre-se. Decididamente. 

I do… Nas duas línguas.

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