Eu tive uma noite brutal de insônia hoje… Acordei de hora em hora, se tanto. O mesmo sonho, cheio de imagens intensas, indo e vindo… Entre uma coisa e outra, blocos inteiros de texto…
Química. É tudo sobre química. Era assim, o começo. Meu pai, sentado na varanda do sítio da família, aos 35 anos de idade, dizia isso. Ele é engenheiro químico, by the way. E naquele Natal, tantos anos atrás, ele me deu de presente essa maleta imensa de … well… coisas de química! Era um kit para crianças. Tinha conjuntos de ímãs, pozinhos, pedrinhas, frascos com líquidos… Tudo para mostrar na prática, de maneira lúdica, como os elementos separados reagem juntos e formam toda uma outra coisa…
Os ímãs me fascinaram… Tente separar um par deles! Impossible! É preciso manter uma boa distância entre as peças. Se chegar perto… Gruda! Bruscamente. E fica muito difícil de ir um pra cada lado depois.
Tinha também os líquidos. De cores diferentes. Tudo bem normalzinho e calmo, cada um num frasco. Mas se misturasse?… Explodia! Fazia fumaça!
E tinha elementos que, juntos, ficavam com a cor mais linda e produziam um cheiro delicioso. Outros, sem odor em separado, juntos faziam um fedor insuportável! E sólidos que viravam líquidos. E líquidos que viravam gasosos. E gasosos que… well… you get the picture.
Então… I get the message. E enquanto eu não consigo fechar os olhos e descansar, eu procuro o momento em que se deu a reação química que fez essa noite insólita acontecer… Não foi tão difícil de localizar…
Eu estava esperando os avós da Marina acabarem de fazer compras. Um olho lá, um olho cá. Meio passeando mas, sempre, trabalhando. O celular na mão, o tempo todo. Eu pedi licença, fui até um ponto do local onde o Wi-Fi pegava melhor… Uma mensagem entrou. Não era trabalho. Não era esperada. Não era… alguma coisa que eu quisesse lidar, exatamente… Not anymore.
É tudo sobre química, filha. Química! Ok, Popi, I get it. But… Do you?… I mean… Você acha que você é só… você mesmo. Não é. Existem muitos, diferentes, “você”. Dependendo do outro “elemento” na situação e a reação química que acontece com cada “par” que se apresenta.
Com alguns, você é engraçada. Suave. Inspirada. Solar. Honesta. Ou… Ríspida. Nebulosa. Impaciente. Sombria. Mau humorada, even… São muitas as interações. Infinitas as possibilidades. The thing is: quando, e como, e com quem você se torna versões de você mesma que você… ama?…
Enquanto eu lia minhas mensagens não esperadas, e pensava em responder ou não; e, depois, já respondendo… Assim, de repente, me ocorreu que aquela ali já não era uma “boa química”. Ao menos não pra mim. Não agora. Não no futuro, tampouco, eu suponho. Os elementos já não se comunicam tanto e, mesmo quando sim, produzem alguma coisa que eu, simplesmente, não gosto. Não que seja feio, ou mal cheiroso, ou… destrutivo, per se… Mas é… hum… desinteressante. Insípido. Cansativo. Primário, somehow…
Nesse caso, o que fazer? Eu preciso mesmo deixar todos os elementos da minha maletinha ficarem se encontrando por aí, de novo e de novo, já sabendo que a reação química não vai ser interessante?… Eu viro pra um lado. Viro pro outro. Não, não vou esquecer o texto. São quatro horas da manhã!
É tudo sobre química, filha…
Tá, pai. Eu sei. Mas agora, em nome de outra química, a neuro, e tipo… a paz mundial da minha casa e a minha capacidade mínima de fazer o meu trabalho amanhã, será que dá pro “encosto literário” produzir uma reação mais… hum… sonolenta e… for crying out loud… Let me sleep!