A vida como uma folha de papel em branco. Cada erro estúpido que você já cometeu, apagado. Todas as possibilidades na sua mão como uma nova e linda caneta. Você pode apenas começar a escrever uma nova história e dessa vez vai dar tudo certo.
Reconhece a fantasia? Eu aposto que sim, porque todos nós nos deliciamos com ela, de tempos em tempos. Eu mesma provavelmente comecei ali pelos doze anos – meus amigos não se cansam de dizer quão velha eu já era desde os primeiros anos e, bom, eles têm uma certa razão!
Então, neste momento, na minha vida, tive a oportunidade de transformar a fantasia em realidade. Decidi me mudar para outro país. Me livrei de tudo o que era velho, ou quebrado, ou não exatamente do meu gosto. Cuidadosamente selecionei minhas roupas, livros e pequenos objetos favoritos. Até fiz um check-up completo com a minha médica só para ter certeza de que eu estaria virando a página totalmente saudável, nova em folha. E aí, de repente, eu me vi dentro de um avião. Dez horas depois, aqui estava eu: no meu próprio sonho de começar do zero, tornado real.
Mas eu estava mesmo partindo do zero? De fato? A sensação nunca foi completamente essa… Quer dizer, aquela sensação toda de novo país, novo apartamento, novo tudo aconteceu. Mais do que aconteceu, me atropelou – de uma maneira ótima, pelo menos pra mim, uma pessoa que adora mudanças. Mas passado esse primeiro susto, o que eu realmente encontrei no que deveria ser a minha “página em branco”? Eu mesma. Um monte de coisas novas, com certeza, mas elas estavam apenas “sentadas” no topo de, e sendo moldadas por, uma velha base que eu conheço tão bem e que atende pelo nome de Flávia Ruiz.
Eu estava subitamente mais corajosa ou extrovertida só porque ninguém por aqui me conhece mesmo e quem se importa?… Não! Eu estava livre do meu medo de altura? Ou de pássaros? Cavalos? Abelhas? Basicamente qualquer coisa que pode ser encontrada em lugares ao ar livre (sim, a lista segue e segue…)? De jeito nenhum. Que tal mais descolada ou confiante no que se refere às minhas ambições e escolhas profissionais? Oh, sim, vai sonhando!…
A questão é: eu rapidamente me encontrei lidando com as mesmas coisas da minha própria e velha maneira. Isso quer dizer que eu vou, de agora em diante, aconselhar as pessoas a não fazer mudanças? Nem de longe! Muito ao contrário. Eu apelo firmemente a todos que o façam, da forma que possam ou queiram, ou quanto antes. Porque a mudança externa é a coisa que vai sempre te olhar nos olhos e gritar na sua cara: “você não pode fugir”. Da vida, das fraquezas, de você mesma. Não pode. Na verdade, o oposto acontece.
Alguma estranha força da natureza te empurra a ser mais e mais você mesma. Às vezes, de forma intensamente dolorosa. E no exato momento em que você realiza isso, essa é a hora em que você começa a percorrer o caminho que leva para onde você queria ir em primeiro lugar, de forma bem mais instantânea, mas nem um pouco real: o caminho de escrever, não uma história, mas um capítulo novo. Porque a história começou há muito tempo. Não pode jamais ser apagada.