Palavras…. E Mágica

Eu tenho chorado ao escrever.

Quando eu escrevo de verdade. 

O que tem sido cada vez mais frequente.

Contos e crônicas, sim. Roteiros, também. Mas, sobretudo, quando eu estou, apenas, “eu-mesma”. Eu como eu. Sem narrador. Sem personagens. Sem plot. Só… Eu. E-mails, mensagens, journaling. Muito, muito mais, inclusive, nos dois primeiros casos. Suponho que seja porque existe alguém do outro lado. E eu sei disso. 

Palavras são coisas tremendamente poderosas. Palavras com destino? Muito mais ainda. Então eu as escrevo. E aí… Choro. Aquele choro que dói. E surpreende. Porque eu  também penso nessas coisas. Só penso. As mesmas coisas. Penso com clareza, com honestidade, com absoluta transparência mesmo. Mas, nesse caso… As palavras apenas pairando, lá em cima, na minha mente?…Tudo bem. Às vezes algum desconforto, alguma angústia, os olhos meio úmidos aqui e ali. As mesmas palavras escritas? Pra outra pessoa ler?! Me passem a caixa de lenços, my darlings

Nem sei como não me dei conta disso antes. Eu, a pessoa que já fez um bocado de psicanálise. Eu, a comunicadora, a pessoa de teatro, a jornalista, a roteirista, a escritora… Falar e escrever sempre estiveram no centro da minha vida. No entanto… Só agora eu realizo realmente o poder inalienável dessas duas coisas. Talvez porque só agora eu esteja me dispondo, mesmo, a baixar a guarda e levantar as questões, all the way. Ir tocando aqui e ali. Porque é isso que as palavras fazem. Tocam. E se estiver tudo bem ali, ok. Se não… Dói. E como dói. 

Feito você fosse pressionando os dedos na própria pele… Os dedinhos… Tornozelos… Joelhos… Um pouco pro lado… Um pouco pra cima… Ai. Nossa. O que é isso aqui? Você olha e lá está: tremendo hematoma. Onde, onde, onde você trombou que machucou tão fundo e feio?… Onde? Quando? Por que? Importa, realmente? O fato é que dói. Ai, como dói. As palavras vão saindo. As lágrimas vão escorrendo. Parece não haver fim nem pra umas nem pra outras. Que cansaço. Exaustão mesmo. Como se tivesse dado a volta ao mundo correndo. Não consigo mais. Silêncio.

Eu faço um chá quentinho. Ligo um negócio qualquer pra ver. Nem sei direito o que é. Até o sujeito falar em… palavras. Tudo, tudo na vida humana, ele diz, é feito através de palavras. Contratos, promessas, declarações. Amor e desamor. União e ruptura. Guerra e paz. No universo da fantasia, como são feitos os encantamentos e maldições? Com palavras. Elas, sempre elas. A própria matéria-prima da mágica. Não, não só pairando em algum lugar secreto e abstrato, lá dentro da sua cabeça. Não. As palavras no mundo externo e concreto. No papel ou na tela, como desenho, como matéria. Ou faladas, na forma de som. A mágica produzida pela transmutação de um estado ao outro tendo você como veículo, origem e destino. Tudo ao mesmo tempo agora. Haja coração. Coragem. Paciência. Lenços.

Meu chá está esfriando. Eu respiro, respiro… respiro. Tomo mais um golinho. Descanso. Tantas palavras que eu não deixei vir ao mundo pra fazer mágica. Mesmo essas transmutam agora, de todo jeito. Viram lágrimas. Mas outras virão de outros jeitos. Muitas. Todas. Eu juro, palavrinhas, que nunca mais deixo vocês no limbo das coisas não escritas, não faladas, não sentidas. Juro.

Hocus pocus. Abracadabra. Alakazam.

2 Replies to “Palavras…. E Mágica”

  1. O choro é provocado pelas palavras ou pelas emoções e recordações que elas, as palavras, trazem de volta à memória?
    Seria uma espécie de “confissão”?
    Preciso ler outra vez …

    1. O choro é porque verbalizar certas coisas traz a emoção à tona mesmo. Tem muita coisa que a gente só percebe mesmo o que sente quando tem que falar. Ou escrever sobre. As palavras evocam mesmo. Potencializam…

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