Ela… Ele… E Essa Força Gravitacional…

Ficou sentada ali. Por cinco minutos, por duas horas, por muitos anos. Pra sempre. Tão bonita, ela. Era mesmo tão bonita? Sim. Não. Não importava. Sabia as respostas. Essa, a sua beleza. Sentada ali, a imensidão do mar à frente. O assunto pairando em algum lugar indefinido. O assunto… E a pergunta.

Você entra?

Onde? 

Você sabe… Entra?

No mar?

Entra de tudo, de todo mesmo… Você?

Depende… Você, quem?

Ela. Ela. A personagem. Fale baixo. Melhor, não fale nada. Silêncio. Não é possível falar sem fazer uso dela. A personagem. E dele. O mar. O falseamento é necessário. Ou ele acorda. Ele. O monstro. Ele, que chamam de amor, pela falta de palavra melhor. Ele acorda. E me engole. E engole tudo o que tiver pela frente. Silêncio.

Entra? Quem? Ela. Podem chamar de qualquer nome. Ela, a personagem. Ela olha pro mar. Não. O mar olha pra ela. Ambos se olham. Quem olhou primeiro? Impossível dizer. Impossível. Mesmo pra ela, que presta tanta atenção a tudo, que tudo controla, que sabe as respostas. Impossível dizer. Silêncio…

O que é o amor? O que é isso, afinal? Assunto. Invenção. Pretexto. Mecanismo de controle social. Passatempo. Objeto de consumo. Doença. Pura, pura fantasia. Ilusão. Necessidade. Coisa de gente que não sabe o que é necessidade. Coisa nenhuma. A discussão segue e segue. Tantas palavras.

Pessoas gostam de falar. É o que se pode fazer. São as braçadas no mar. Uma, depois outra, e outra. Faz sentido, funciona, te leva de volta pra margem em progressão matematicamente perfeita, lógica, enfadonha. Até que o mar diga diferente. Até que ele acorde e diga mais devagar, mais rápido, nunca mais. Até que ele te arraste ao fundo e te engula e te cuspa e te prenda e te solte. 

Ele, o objeto de análise vazia e supérflua. O que não pode ser previsto, contabilizado ou contido. Que não pode ser retido nas mãos de ninguém por mais de uma fração de tempo, que sempre acha frestas por onde passar e seguir se movendo para algum lugar cujo domínio não pode ser reivindicado. Ele, que é soberano, inatacável, indiferente. Ele, que existe à sua revelia e independente da sua crença ou concordância. Que fica parado, mudo, morto, inexistente, por tempos e tempos, e mais todos os tempos do seu tempo, até que ele desperte em algum dia, que nunca existiu, e tome conta de todos os pedaços do tempo e de existência – que você jurou que eram seus. Uma coisa sem coisas. Sem início, sem fim. Sem adjetivos, sem verbos, sem palavras, por assim dizer, sem números, sem DNA, sem qualquer qualificador, de qualquer ordem da maior das inteligências.

Pra quê isso, afinal? Pra quê?

Os outros amores… ok. Amar os filhos, os amigos, os membros da família, a humanidade… Amar tranquilamente, nas idas e vindas naturais, nos encontros e desencontros, na emoção moderada de estar juntos e depois separados. Normal. Eu aqui, vocês ali. Nos vemos sempre agora, muito raramente depois. Sempre de novo. Normal. Bom. Tudo sempre bom. Razoável. Socialmente útil. Psicologicamente justificável.

O outro amor… Silêncio. Impossível falar sem ele, o mar. E ela, a personagem.

Ficou sentada ali. Por cinco minutos, por duas horas, por muitos anos. Pra sempre. Ele… Chamando. Ele… Querendo acordar. O mar. O mar. E vai. Porque não pode ser contido. Porque não deveria ter nome, nem teorias, nem falas. Ele, que existe por si só. Ele, que não é ideia, nem objeto, nem sentimento. Não é. Não é, absolutamente, um sentimento. Simplesmente é. Fora, dentro, em torno, através. Magnetismo que te faz precisar do que não é preciso, que deixa mais vivo o que mata, que torna insuportável o que nunca foi melhor. A materialização não concretizável de todos os paradoxos.

Ele olhou pra ela.

Ela olhou pra ele.

Ou foi o contrário?

Ou foi ao mesmo tempo?

Impossível dizer.

Mesmo pra ela. A personagem. Ela, que não pôde mais prestar tanta atenção a tudo, que não tem mais energia para controlar coisa alguma. Ela, que não sabe as respostas. Essa, a sua beleza. Silêncio. Silêncio…

Estrondo. O mar se agiganta. E ela pode seguir sentada. Levantar. Pular de cabeça. Saltar de pé. Caminhar água a dentro e submergir, consensualmente. Não entrar, de forma alguma. Respirar debaixo d’água, ainda que dolorosamente. Se debater, por todos os tempos. Viver, eternamente, em afogamento. Morrer,  a cada segundo. Se fundir com a água, talvez, de alguma forma…

A ela, muitas, as possibilidades.

A ele, a soberania. 

Eu, que chamei de ela. O amor, que chamei de mar. 

Ela… Ele…

Nós dois… E essa força gravitacional.

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